Quem tem pressa come na rua

Por Fernanda Guimarães, Flávia Firmo, Gabriel Machado, Laura Vasconcelos e Nathália Souza


Em busca de dados e boas histórias, as ruas de Mariana foram cenário para a compreensão do que a população come quando se alimenta fora de casa. Em visita a lanchonetes, pastelarias e a feira de produtos da roça foi possível determinar os principais locais frequentados por pessoas de todas as idades e definir as prioridades delas na hora de escolher o que comer. Stella Castro, nutricionista, ressalta que a preferência por alimentos saudáveis não é muito frequente, porém a escolha da população parte de critérios como higiene e qualidade de serviço.

O cheiro da feira? Café

Feira de produtos da roça. Foto de Laura Vasconcelos.

A barraca onde o grão de café é triturado na hora fica, estrategicamente, no centro da feira. Ao redor é possível encontrar uma variedade de artigos à venda: galinhas, doces, flores, frutas, legumes, pastéis. Entre as barracas estão homens, mulheres, idosos, crianças e até cachorros. A feira de Mariana parece ser um ambiente bastante familiar, onde as pessoas conversam e se ajudam. Esse mesmo cenário se repete todos os sábados, pela manhã, em frente à prefeitura.

A barraca de doces caseiros chama a atenção por ser a única desse gênero. Além de doces, encontra-se nela algumas poucas variedades de legumes e hortaliças, como mandioca, espinafre e vagem. Tudo proveniente da horta da associação dos feirantes da qual participa Nélia Euzébio, a responsável pela barraca. A feirante garante que todo mundo compra doce, principalmente os homens, já que “as mulheres pensam sempre em manter a forma”. Os doces são muitos, uma média de 15 tipos, todos de fabricação própria, vendidos a oito reais o quilo. Banana, mocotó, leite, goiaba, palha italiana, amendoim. Satisfazendo a todos os gostos.

Duas barracas depois, Vitor Lacerda, 18 anos, de Palmeiras de Fora, zona rural de Ponte Nova. Um rapaz que se divide entre ajudar o pai na roça e estudar para o vestibular. Ele surpreende pelo número de pastéis que vende: 120 por dia. Além deles, há também os acompanhamentos: cafezinho, café com leite, suco e coxinha, que o vendedor garante ser especial graças ao recheio de frango com catupiri. A segunda surpresa surge quando ele conta, emocionado, que vem para a feira todos os sábados porque se sente mais próximo da realização do seu sonho: o curso de medicina na Universidade Federal de Ouro Preto.

Mesmo com tantos atrativos, talvez uma das grandes estrelas daquele lugar se destaque pela sua simplicidade: Seu Nilo, 64 anos, há nove na feira, é o “vendedor de galinhas”. Todos ali o conhecem, e ele parece bem à vontade naquele ambiente. Antes das 10h da manhã, depois de vender todos os seus produtos, o simpático feirante já pode deixar sua barraca e circular pela feira. E é então que ele (literalmente) invade as barracas vizinhas, fala com todos ali presentes, os vendedores, os fregueses ou os que estão apenas de passagem, deliciando-se com um churrasquinho e uma “pinguinha”. Quando perguntam por que seu Nilo não está na sua barraca ele responde: “Já acabaram as vendas! Vende rápido porque tenho preço bom!”. Naquele sábado ele já havia vendido galinhas, cachaça, queijo, e até alguns patos. Além da barraca na feira, Seu Nilo tem uma loja de materiais de construção, que é administrada pelos filhos.

Pão de queijo, pastel e muita história para contar
Recanto do Pão de Queijo, 27 anos de história. Foto de Nathália Souza.

Em funcionamento desde 1984, o Recanto do Pão de Queijo, situado no centro de Mariana, é uma das lanchonetes mais tradicionais da cidade. A motivação para a abertura do comércio foi a instalação das mineradoras na região, o que colaborou para o crescimento da cidade. De acordo com Marlos Morais, administrador e proprietário do local, os produtos mais pedidos pelos clientes são o pão de queijo e o croissant, procurados principalmente por estudantes devido ao baixo preço. Ele destacou, ainda, que há queda das vendas no período de férias escolares e, aumento nos primeiros dias do mês. Quando questionado sobre a contribuição do turista em Mariana, ele é categórico: “Mariana não está preparada para receber turistas. A cidade tem atrativos, mas tudo tem que ser trabalhado, principalmente pela prefeitura”.

Márcio Oliveira, conhecido como Bola, é proprietário de um bar em Mariana e montou outro negócio há cerca de três anos, a Lanchonete e Pastelaria Du Bola. Ele conta que, no início, não tinha muita experiência. Só fabricavam pastéis de dois sabores - queijo e carne - e após algum tempo, sua mulher acrescentou novos recheios e tamanhos, que resultou no aumento das vendas. Com o tempo, a lanchonete se popularizou e, vendendo pastéis a baixo preço, conquistou os marianenses. Hoje, com uma equipe de oito funcionários, Márcio procura estar sempre atento à higienização do estabelecimento e à preparação dos ingredientes que vêm, principalmente, da zona rural do município.

Os proprietários da lanchonete Irmãos Empada não tiveram muita dificuldade em conseguir clientela, pois, segundo um dos irmãos, “Mariana é uma cidade pequena, qualquer novidade atrai a população”. A maioria dos seus fregueses são estudantes, devido à localização em frente a um dos campus da UFOP, o Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, o que garante a venda de cerca de 600 empadas por dia.
Lanchonete Irmãos Empada. Foto por Nathália Souza.

A primeira lanchonete foi aberta, por dois irmãos, em Barbacena, e logo novos sócios aderiram  à ideia expandindo-a por Minas Gerais. Os irmãos ensinaram a um grupo de pessoas a receita da massa e, assim, esses iniciaram seus próprios negócios. Existem várias filiais, nem todas com o mesmo nome, mas as receitas e os recheios são padronizados.

Anderson Paula, 22 anos, instalou uma unidade em Mariana há seis anos, junto com seu irmão, José Arlindo. Ambos moram em Barbacena e se revezam semanalmente para gerenciar o estabelecimento. Anderson é solteiro, diferente de seu irmão que é casado e tem filhos. Quando estão em Mariana, eles passam a semana em um cômodo que fica no andar superior da lanchonete.
Presença da vigilância sanitária
De acordo com os proprietários dos estabelecimentos, a vigilância sanitária de Mariana faz um trabalho positivo, e com presença constante. Além da fiscalização da higiene do local, o órgão passa orientações para o armazenamento e produção dos alimentos. Na feira, os vendedores são incentivados a usar bonés e jalecos brancos. As lanchonetes que não estão de acordo com a regulamentação em vigor recebem multas.
Palavra da especialista: como se alimentar nas ruas?
Em entrevista, a nutricionista Stella Castro, que atende em Mariana, contou que a maior parte de seus pacientes a procuram por terem valores anormais de colesterol e triglicérides. Esses problemas geralmente são causados pela má alimentação, uma vez que as pessoas comem com frequência em padarias e lanchonetes e não se preocupam com a qualidade das refeições, ingerindo grande quantidades de alimentos gordurosos. Aumentando o risco de desenvolvimento de doenças como obesidade, hipertensão e diabetes.


DICAS DA NUTRICIONISTA
- Seguir uma dieta equilibrada que contenha todos os nutrientes necessários na dieta;
- Tomar um café da manhã reforçado e saudável, pois ele é a principal refeição do dia;
- Ter sempre uma fruta ou barra de cereal na bolsa;
- Preferir comer em restaurantes a lanchonetes;
- Ter sempre uma garrafinha de água em mãos;
- Preferir alimentos com fibras, que garantem mais saciedade;
- Fazer refeições leves a noite.

Infográfico por Gabriel Machado
Grupo 1. Edição de texto: Laura Vasconcelos, Fernanda Guimarães e Nathália Souza. Foto: Nathália Souza e Laura Vasconcelos. Vídeo e Making off: Flávia Firmo. Infográfico: Gabriel Machado.
 Assista ao making off da matéria.

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